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Custo de materiais segue como maior problema da construção, mas taxa de juros preocupa
 
25.10.2021   Agência CBIC
Notícia - Imprensa

A falta e o aumento dos custos dos materiais continuam sendo os principais problemas da Indústria da Construção, pelo quinto trimestre consecutivo. A dificuldade foi apontada, no 3º trimestre deste ano, por 54,2% dos empresários pesquisados pela Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). No entanto, a taxa de juros elevada começa a preocupar o setor.

De acordo com o presidente da CBIC, José Carlos Martins, os dados comprovam que o setor poderia crescer ainda mais se não fossem os aumentos das taxas de juros e dos materiais. “Os números apresentados comprovam que a indústria da construção é realmente uma Ferrari com freio puxado. Estamos andando bem, mas poderíamos andar muito mais. Difícil achar outro setor que sofreu uma inflação como o nosso, e o tanto que esse fator inibiu nossa capacidade de contribuir com o crescimento do PIB”, destacou.

Prova disso, é que entre os maiores problemas apontados por empreendedores do segmento, o aumento da taxa de juros foi o que ganhou maior força na passagem do 2º para o 3º trimestre de 2021. Enquanto no trimestre anterior 9,7% manifestaram preocupação com os juros, no 3º trimestre esse número aumentou para 16%.

Contudo, apesar das incertezas, a expectativa da CBIC para o PIB do setor subiu para 5% neste 3º trimestre, o que seria o maior crescimento dos últimos 10 anos. Os números foram apresentados no estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção, realizado pela entidade e apresentado durante evento online nesta segunda-feira (25).

Para a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, a melhora das atividades do setor neste trimestre, o incremento do financiamento imobiliário, a demanda consistente, o avanço do processo de vacinação, a desaceleração do aumento de preços dos materiais de construção, mesmo que modesta, e a continuidade de pequenas obras e reformas são algumas das razões que ajudam a justificar a projeção atual. “Quando desagrega esse nível de atividade por nível da construção, observamos que os três segmentos estão acima de suas medidas históricas: construção de edifícios, obras de infraestrutura e serviços especializados para a construção”, destacou.

Custo com insumos

O custo com materiais registrou leve queda neste trimestre e contribuiu para elevar a expectativa do PIB do setor. O índice de evolução do preço médio dos insumos e matérias primas, de acordo com a Sondagem, passou de 77,5 para 75 pontos. Contudo, destaca a economista, o índice permanece muito acima da linha divisória de 50 pontos, demonstrando ainda a forte alta dos preços.

A alta pode ser comprovada pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – Materiais e Equipamentos, que acumulou, nos últimos 12 meses encerrados em setembro deste ano, alta de 30,24%, um recorde para o período, na era pós-Real. Os insumos que mais influenciaram este aumento, segundo o INCC, foram os vergalhões e arames de aço ao carbono, os tubos e conexões de ferro e aço e os tubos e conexões de PVC. A alta de custos é o principal problema da indústria na visão dos empresários. “Hoje, 54,2% dos empresários ainda são atingidos por essa alta dos insumos, o que é um dado preocupante. Nunca tivemos uma alta tão expressiva, chegando a 30,24% e alcançando um patamar recorde histórico”, reforçou a economista.

Mercado de trabalho

Já o mercado de trabalho formal da construção vem se destacando e registrando resultados positivos há oito meses consecutivos. Dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostram que o setor gerou, de janeiro a agosto de 2021, quase 238 mil novos postos de trabalho com carteira assinada. Tomando como referência o Caged e o Novo Caged, este foi o melhor resultado para o período desde 2012.

Com estes números, a indústria da construção registra o melhor patamar de mão de obra desde o final de 2015, chegando a 2,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada em agosto/21. “O número de vagas formais foram disseminadas por todo país, e com exceção de Roraima, todos os demais estados registraram saldo positivo na contratação da construção. Com destaque para São Paulo, Minas Gerais e Paraná”, explicou Ieda Vasconcelos.

José Carlos Martins ainda lembrou o número de trabalhadores informais, que chega a 60% das ocupações do setor e que, sendo formalizados, podem contribuir para melhorar o cenário socieconômico do país. “Por isso vale reforçar a importância desse saldo positivo de contratações no setor. Quanto mais CLT registrarmos, mais melhoramos o aspecto socioeconômico no cenário nacional”, disse.

Crédito imobiliário

O financiamento com os recursos do FGTS mostrou desempenho negativo, com queda de 11% de janeiro a agosto deste ano, no número de unidades financiadas, em relação ao mesmo período do ano passado. Foram financiadas quase 289 mil unidades até agosto de 2020 e pouco mais de 256 mil em 2021. Já os financiamentos com recursos da poupança SBPE subiram 148,68% nos primeiros oito meses deste ano em relação a igual período de 2020. As unidades financiadas subiram de 237 mil em 2020 para mais de 589 mil este ano. “A gente financiar e crescer mais de 140% no atual cenário econômico é um número muito expressivo e relevante”, reforçou Ieda.

Martins destacou preocupação com os números, já que o FGTS é uma importante forma de funding do setor e lembrou que muitas pessoas perderam renda nos últimos anos em virtude da pandemia. “Fica bem evidente o impacto do aumento de custo com relação a capacidade de compra das pessoas, e isso fica mais saliente na compra com FGTS, que é destinado a pessoas com renda menor”, explicou, ao lembrar que a cada R$ 1 milhão investido na construção são gerados 18,31 empregos. “Mas com o uso do FGTS destinado ao consumo e não para aquisição de imóvel os números de empregos caem”, completou.

Expectativas e projeções

De acordo com o estudo, o Índice de Confiança do empresário da Indústria da Construção permanece em patamar positivo em outubro, sendo sustentada pelas expectativas em relação aos próximos meses. Para Martins, os empresários da construção aguardam maior nível de atividade nos próximos seis meses e projetam novas contratações. “Com nossos números é difícil as pessoas serem pessimistas, já que indicam crescimento. Mas temos que ficar alertas sobre o aumento da taxa de juros e o descasamento de custo da produção do imóvel com o custo de venda”, frisou.

Outro ponto que vale salientar, de acordo com o presidente da CBIC, é que quando citamos que o aumento dos insumos alcançou 30% em 12 meses, não estamos considerando o período de julho a setembro deste ano. “Sendo assim, estamos falando de mais 7% de aumento, chegando a quase 40% no período da pandemia, o que é alarmante”, explicou.

Atividade

A média do Índice do Nível de Atividade para o setor, no 3º trimestre de 2021, foi a melhor para o período, desde 2010. A demanda consistente por imóveis, as taxas de juros ainda em patamares atrativos e o incremento do crédito imobiliário são alguns dos fatores que ajudam a explicar esse resultado.

Desagregando o indicador do Nível de Atividade da Construção por segmento, observa-se que o melhor ritmo está na Construção de Edifícios, embora todos os segmentos do setor estejam com o nível de atividade acima da sua média histórica.

A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) das empresas de construção encerrou o mês de setembro/21 em 65%, valor superior a sua média histórica (62%), e o maior para o mês desde 2014, quando chegou a 67%.

Marcelo Souza Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acredita que o setor seguirá confiante. “Apesar de uma trava por conta dos aumentos dos insumos, tudo indica que há espaço para continuar com expectativas positivas”, concluiu.

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