Com a participação do consultor estratégico Bilal Succar – uma das maiores autoridades internacionais em processos de avaliação da capacitação e maturidade da ferramenta Building Information Modeling (BIM) –, de especialistas nacionais sobre o tema e de líderes da construção e do governo, o “Seminário BIM: Oportunidade para inovar a indústria da construção e aumentar a transparência das compras públicas” cumpriu o importante papel de difundir essa inovação no País. Foram mais de 130 participantes presenciais e, com a transmissão online via Facebook da CBIC Brasil (Painéis 1 e 2 e Painel 3), o evento alcançou, até o momento, quase 9 mil pessoas.
A iniciativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), por meio da sua Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat), e do Senai Nacional, une esforços com o Comitê Estratégico de Implementação do BIM (CE-BIM), do governo federal, com o objetivo de promover e difundir esses processos no Brasil. “O BIM não é uma mera solução de gestão. É um posicionamento perante a sociedade brasileira, que demonstra que o setor quer aumentar a produtividade, a qualidade e a transparência”, apontou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, na abertura do evento, reforçando que “universalizar e democratizar a utilização do BIM é questão de honra para a entidade, enfatizando que deveria ser utilizado em iniciativas emblemáticas do país, como no caso do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV)”. Ao destacar a relevância da parceria com o governo, que montou o CE-BIM, o executivo lembrou que há alguns anos o BIM é assunto estratégico para a CBIC.
“Desde 2015, com a elaboração e publicação da Coletânea de guias de Implementação do BIM, a CBIC e o Senai Nacional vêm desenvolvendo um trabalho sistemático de sensibilização do setor, em especial das construtoras e incorporadoras, sobre esses processos, por acreditar na inovação como caminho para a melhoria da qualidade técnica e de gestão do empreendimento, elevação da produtividade e, no caso das obras públicas, maior transparência”, ressaltou o presidente da Comat/CBIC, Dionyzio Antonio Martins Klavdianos.
Ao destacar a importância da indústria da construção na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a superintendente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Cardozo Sagazio, reforçou que “a CNI está comprometida em apoiar a competitividade da indústria da construção”. Citou o movimento Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) da CNI, composto pelas principais lideranças do Brasil, que há 10 anos estabelece um diálogo com o governo federal e o ecossistema da inovação para avançar em temas relevantes para que indústria continue investindo em inovação.
“Se o BIM for introduzido na Lei de Licitações, teremos uma mudança estrutural na forma de contratação de obras e serviços públicos brasileiros”, apontou o deputado federal Júlio Lopes (PP/RJ), presidente da Frente Parlamentar do BIM no Congresso Nacional. O deputado também ressaltou a importância de a CBIC levar o tema para os candidatos à Presidência da República, mostrando que a utilização dessa inovação é uma resposta contra a ineficiência e a baixa produtividade.
O presidente da CBIC deu ciência de que o tema já integra a pauta da Coalizão pela Construção, iniciativa que congrega vários agentes da cadeia produtiva da construção, que será levada em breve aos candidatos e também será apresentada durante o 90º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), que será realizado de 16 a 18 de maio, em Florianópolis (SC).
Educação & Capacitação
Sobre a bem sucedida experiência do Exército Brasileiro na adoção do BIM em suas obras o coronel Washington Gultenberg de Moura Luke, explanou como a adoção desses processos se expandiu na organização. Destacou que as iniciativas no Exército se iniciaram com o desenvolvimento e utilização do sistema GIS Opus e evoluiu com a utilização e integração de processos BIM. O sistema OPUS controla planejamento, programação, acompanhamento e fiscalização, da execução de obras e serviços de engenharia do Exército, tanto em nível executivo quanto gerencial e estratégico. Utilizado pelos Departamentos de Engenharia e Construção e de Tecnologia, o Opus integrado com processos BIM foi disseminado pelos próprios oficiais, quando se movimentaram ocupando diferentes posições na estrutura da organização. “Hoje, o OPUS é utilizado não apenas em obras, mas também em logística e ações militares”, disse.
João Alberto Gaspar, da TI LAB, empresa que há 18 anos oferece cursos de capacitação em tecnologias aplicadas na indústria da construção civil, incluindo BIM, discorreu sobre alternativas que podem ajudar no avanço da capacitação desses processos no Brasil. Segundo ele, para que o BIM possa cumprir o papel esperado pela indústria, é preciso haver um planejamento estratégico a respeito da capacitação em BIM para estudantes, professores e profissionais de diversas áreas, em vários níveis de atuação, da base ao topo da pirâmide da tomada de decisões. Enquanto isso não acontece, sugere como solução paliativa, o ensino à distância ao vivo, com apoio de plataformas colaborativas de interação, além de livros e outros conteúdos paradidáticos sobre o uso de softwares e processos de trabalho BIM.
Implementação na Indústria da Construção
Ao apresentar a experiência da Itaúba Incorporações e Construções em obras de infraestrutura utilizando os processos BIM, José Eugênio Souza de Bueno Gizzi, sócio proprietário da empresa, disse que um dos principais motivos que o levou a utilizar a modelagem BIM em sua empresa, especialista em construção de pontes e viadutos, foi a questão do planejamento. Com o BIM, a empresa conseguiu entregar dois viadutos de 450 metros para a Copa do Mundo em 2014, em 10 meses, e ganhar dinheiro. Como obstáculos na implantação, Gizzi destacou o alto custo (softwares, hardwares, mão de obra, treinamentos e consultorias); falta de bibliotecas e bibliografia; anteprojetos fornecidos apenas em CAD pelos contratantes, tendo em vista que poucos profissionais dominam os processos BIM; e a dificuldade que enfrentou para realizar a interoperabilidade entre o BIM e ERPs. Enfatizou, no entanto, os diferenciais para as empresas que estão utilizando o BIM, como ganhos com planejamento, orçamento e execução. “A maior parte dos meus contratos são com órgãos públicos. Imagine o meu contratante conseguir enxergar clara e inequivocamente o plano de ataque e o planejamento da obra, inclusive com os quantitativos de serviços. É um ganho excepcional para o governo e para qualquer contratante”, disse.
Já o diretor técnico da Sinco Engenharia, Paulo Sanchez, que iniciou a adoção BIM em 2011, demonstrou os benefícios obtidos com o planejamento, como o aumento da confiabilidade das informações, maior aderência ao custo orçado (inclusive redução de 3% a 5%), atendimento ao prazo, melhor coordenação das diferentes disciplinas do projeto, documentação mais confiável e mais consistente. Sanchez ressaltou a relevância da modelagem em sua empresa, que já resultou na entrega de vários empreendimentos não apenas dentro do prazo previsto mas até adiantados e sem desperdício de materiais e sem custo adicional. Apresentou casos de usos conhecidos como 4D, que consideram o tempo e o sequenciamento da execução das diversas atividades e serviços, realizando a construção virtual antes da execução física das obras. Esclareceu que costuma modelar a fundação, a estrutura, arquitetura, fachada, louças, bancadas, impermeabilizações, e até o canteiro de obras em alguns dos empreendimentos que realiza. Salientou que essa utilização do BIM tem sido decisiva para que sua empresa consiga vencer concorrências e contratar novas construções incorporadas por terceiros.
Oportunidade do BIM em Compras Públicas
No painel que abordou “Oportunidades do BIM em Compras Públicas”, foram apresentados casos de implantação do BIM em órgãos governamentais, como o da Estação Ponte Grande – linha 2 do Metrô de São Paulo, finalizado em 2015, que envolvia sete modelos BIM. De acordo com Ivo de Barros Mainardi Neto, do Metrô São Paulo, uma das organizações públicas mais avançadas no uso do BIM, a utilização de modelos inteligentes aumentou a qualidade dos projetos e das soluções construtivas, facilitando a coordenação das diversas disciplinas. “Com BIM a gente conseguiu entregar um projeto significativamente mais bem estruturado, coordenado e definido”, disse.
Rafael Fernandes Teixeira da Silva, da Secretaria de Planejamento do Estado de Santa Catarina, comentou a experiência do estado, pioneiro no uso do BIM. Segundo ele, Santa Catarina começou a pensar em BIM como uma potencial resposta aos problemas constatados nas obras, como atrasos nas entregas e erros nos projetos e especificações, que causaram custos adicionais na execução dos empreendimentos. “O estado erra muito na fase inicial dos empreendimentos, no levantamento de informações e na definição dos requisitos, entre outros”, mencionou.
Ricardo Grisólia Esteves, da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), comentou que, apesar das dificuldades observadas, a utilização do BIM pela FDE está valendo a pena. “Nossa visão é que o BIM será utilizado também na manutenção das escolas já construídas”.
Já Eduardo Tavares de Lima, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), falou sobre a experiência da companhia na adoção e aculturação do BIM, deu ciência de que a equipe interna desenvolveu cinco projetos de acessibilidade, o que já resultou numa melhor interação entre diferente áreas. Dois deles já estão licitados como obra e vão aferir o que tem de melhor que não foi feito com BIM. Os próximos passos, segundo Eduardo Lima, são: revisão dos requisitos legais (incluindo a Lei 13.303/2016), compatibilização de bases de custos (Sicro/Sinapi/Siec), continuidade da adequação da infraestrutura de TI, bibliotecas, diálogo com o mercado, capacitação das obras, e o desenvolvimento do portal BIM na intranet da empresa.
Sobre a visão do governo na aplicação do BIM nos setores público e privado, o diretor do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e representante do CE-BIM, Nizar Lambert Raad, ressaltou a importância da aplicação dos processos BIM. “O BIM vai melhorar a qualidade das obras, reduzir desperdícios, dar mais transparência nas contas públicas, mais ênfase no planejamento, confiabilidade nas estimativas de custos e cumprimentos dos prazos, bem como menor incidência de erros e imprevistos tanto nas obras quanto na redução de aditivos”. Além disso, reforçou que a disseminação do BIM vem sendo tratada pelo Comitê Estratégico do BIM, que tem caráter deliberativo.
O evento também contou com a participação do professor doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Eduardo Toledo dos Santos, moderador do painel Educação & Capacitação, e do consultor estratégico Wilton Catelani, mestrando pela Universidade de São Paulo e consultor BIM da CBIC.