O segmento de obras públicas está chegando a uma situação limite. Nos últimos 30 anos estamos descendo ladeira abaixo na contramão de todas as boas práticas de gestão, planejamento, orçamento e entregas à sociedade. Nesse cenário devastador não existe o bandido e o mocinho. Embora, alguns ainda acreditam que a culpa seja exclusivamente da empresa contratada.
Grosso modo, podemos dizer que está tudo errado e que todos somos responsáveis. Os problemas estão presentes desde a forma como as obras são planejadas e licitadas, passando pela fiscalização, até o excesso de legislação em vigor.
Dentre os obstáculos que dificultam que as obras contratadas sejam bem realizadas, está a falta de qualidade dos projetos. Ainda não faz parte da cultura dos governos pensar a longo prazo. Com isso, inexiste no país um estoque de projetos. Assim, com um planejamento ineficiente e dados incompatíveis, as obras começam.
Enquanto a indústria da construção trabalha com novas tecnologias e plataformas digitais, como BIM, as obras públicas brasileiras ainda trabalham com planilhas defasadas, projetos sem convergência e materiais ultrapassados.
Estudos mostram que um projeto completo de arquitetura e de engenharia, contratado corretamente, tem custo médio de 5% do investimento global em empreendimento público, mas evita superfaturamentos e aditivos que podem alcançar até dezenas de vezes o economizado nesse item essencial a uma obra pública de qualidade.
Logística, solução técnica, planejamento, prazo e valor, dentre outros itens, devem ser estudados antes de uma licitação ser feita e da obra ter início. Hoje, temos milhares de obras públicas paradas. E nenhuma é concluída sem aditivo. Por que isso ocorre? Nós, do setor produtivo, queremos trazer essa discussão à tona. Precisamos dar transparência a esse assunto. Precisamos definir quais são os verdadeiros problemas que impedem que as obras públicas sejam entregues no prazo e ao custo correto.
No entanto, para que isso ocorra, precisamos unificar e pacificar os entendimentos e visões em torno do problema. Tanto o poder público, responsável pela contratação, bem como o setor produtivo e os órgãos de controle, precisam se unir para construir uma relação de confiança e transparência na busca por soluções que venham a transformar esse cenário. O preço pago por todos nós, contribuintes, é muito alto e não alcança o retorno esperado. É hora de começarmos a escrever um novo capítulo na história das obras públicas brasileiras.
Paulo Baraona é presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-ES)